Nos últimos quatro anos, a saúde mental no ambiente de trabalho passou por transformações significativas, impulsionadas pela pandemia, questões sociais e desafios econômicos. Empresas investiram em benefícios como aplicativos de meditação, dias de saúde mental e campanhas de conscientização, mas esses esforços, isoladamente, não foram suficientes para uma mudança real.
Desde 2019, a Mind Share Partners conduz um relatório bienal sobre saúde mental no trabalho, analisando a experiência de 1.500 trabalhadores americanos, com um recorte especial para grupos historicamente marginalizados. Em 2023, o estudo revelou que, apesar da redução dos sintomas mais agudos da pandemia, a saúde mental dos trabalhadores ainda apresenta desafios, agora relacionados a novas pressões, como inflação, instabilidade no emprego e mudanças nas relações de trabalho.
O que realmente importa para os trabalhadores?
Mais do que benefícios individuais, os trabalhadores querem um ambiente que promova bem-estar de forma sistêmica. O estudo apontou que 78% consideram uma cultura organizacional saudável o fator mais impactante para sua saúde mental, acima de terapia ou recursos de autocuidado. Isso demonstra que criar um ambiente seguro, sustentável e equilibrado é mais eficaz do que apenas oferecer ferramentas para que o trabalhador lide com o estresse sozinho.
Outro dado alarmante foi a queda na segurança psicológica no trabalho. Embora a conscientização sobre saúde mental tenha aumentado, os trabalhadores se sentem menos confortáveis para falar sobre o assunto. Em 2021, 37% se sentiam à vontade para discutir saúde mental com líderes seniores, mas esse número caiu para apenas 19% em 2023. O motivo? Empresas voltando ao foco exclusivo em produtividade, muitas vezes contradizendo o discurso de flexibilidade e equilíbrio.
Além disso, a pesquisa mostrou que os investimentos em Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) impactam positivamente a saúde mental e o engajamento dos trabalhadores. Grupos historicamente marginalizados – como mulheres da Geração Z, negros, latinos e LGBTQ+ – ainda enfrentam desafios desproporcionais, mas aqueles que sentem apoio em relação à sua identidade demonstram maior satisfação, confiança e comprometimento com a empresa.
Por fim, um dos debates mais intensos dos últimos anos – o retorno ao escritório – mostrou um ponto central: autonomia. O estudo reforça que o fator mais relevante não é onde as pessoas trabalham, mas sim a liberdade de escolha sobre como desempenham suas funções.
O relatório deixa um recado claro: saúde mental no trabalho não é só um benefício adicional, mas um pilar essencial para o bem-estar e o sucesso organizacional. Empresas que realmente querem fazer a diferença precisam olhar além das soluções superficiais e investir em culturas mais saudáveis, inclusivas e sustentáveis.